Ensaio com público






Fotografia : Gonçalo Villaverde


FREDERIKSHAABS, no maior glaciar do mundo

dia 6 de Outubro no Espaço EVOÉ


Uma sala cheia, desejo de ver/fazer Teatro, garra de viver.
Um público alegre e unido pela Saudade Portuguesa, aquela que nos faz reviver e ter vontade de ficar mais um bocadinho.
Actores... Os Actores... Esses queriam a Festa... a da vida!

Portugal e a Pesca do Bacalhau

Portugal sempre foi um país com fortes tradições marítimas e a actividade da pesca do bacalhau já é bastante antiga. Os portugueses iniciaram a pesca do Bacalhau na Terra Nova, nos fins do século XV. As frotas portuguesas, constituídas por navios de linha, exploraram as águas da Gronelândia, do Labrador, da Terra Nova e da Nova Escócia.

Até meados do século XX, a pesca do bacalhau era baseada, fundamentalmente, no trabalho solitário de cada pescador que, no seu pequeno barco - o Dóri - usava a pesca à linha para obter este peixe nas águas profundas e geladas dos mares do norte. Era um trabalho muito duro e muito arriscado que fazia destes homens autênticos heróis do mar. Só mais tarde surgiram navios diferentes que permitiam um tipo de pesca mais segura (arrastões,...).

Sem alterações notórias, através dos séculos, a tripulação dos Bacalhoeiros era composta por:

  • Capitão
  • Piloto
  • Marinheiros (pescadores)
  • Cozinheiro
  • 1 ou 2 moços (mais recentemente passaram a ser 6, 8 ou 10) conforme a capacidade do navio.

Entre os marinheiros - Pescadores, a divisão era:

  • Escalador
  • Salgador
  • Simples pescador
  • "Os verdes" (os que se iniciavam na faina)


Na pesca do bacalhau, tudo era duplamente complicado. "Maus tratos, má comida, má dormida... Trabalhavam vinte horas, com quatro horas de descanso e isto, durante seis meses. A fragilidade das embarcações ameaçava a vida dos tripulantes" dizia Mário Neto, um pescador que viveu estes episódios e pode falar deles com conhecimento de causa.
Quando chegava à Terra Nova ou Gronelândia, o navio ancorava e largava os botes. Os pescadores saíam do navio às quatro da manhã e só regressavam à mesma hora do dia seguinte, com ou sem peixe e uma mínima refeição: chá num termo, pão e peixe frito. No navio, o bacalhau era preparado até às duas ou três da manhã. Às cinco ou seis horas retomava-se a mesma faina. Isto, dias e dias a fio, rodeados apenas de mar e céu.
Teresa Reis, "A pesca do bacalhau"


Sobre Bernardo Santareno

Bernardo Santareno (1924 - 1980)

Na realidade, Bernardo Santareno é o pseudónimo de António Martinho do Rosário.

Escritor português, nascido na cidade de Santarém. Estudou Medicina em Coimbra, formando-se em 1950. Veio depois a exercer medicina psiquiátrica.

Ligado a um fundo popular poético e supersticioso, de forte cunho religioso e erótico, explorou temas de marginalização moral a que, a partir da publicação de O Judeu (1966, uma das obras mais significativas do autor, que toma como personagem principal António José da Silva), se juntou um cunho de intervenção política. Notórias são as influências do teatro épico de Brecht, em reacção à situação do país durante a vigência do Estado Novo.

Bibliografia
Poesia
A Morte na Raiz (1954)
Romances do Mar (1955)
Os Olhos da Víbora (1957)
Teatro
A Promessa (1957)
O Bailarino e a Excomungada (1957)
O Lugre (1959)
O Crime da Aldeia Velha (1959)
António Marinheiro ou o Édipo de Alfama (1960)
Os Anjos e o Sangue (1961)
O Duelo (1961)
O Pecado de João Agonia (1961)
Anunciação (1962)
O Judeu (1966)
O Inferno (1967)
A Traição do Padre Martinho (1969)
Português, Escritor, 45 Anos de Idade (1974)
Os Marginais e a Revolução (1979)

Acerca do Lugre

Bernardo Santareno publicou em 1959 um volume de narrativas, Nos Mares do Fim do Mundo, fruto da sua experiência como médico da frota bacalhoeira, experiência que dramaticamente transpôs em O Lugre.

Vocabulário técnico

Durante as pesquisas procurámos o significado de algumas das palavras presentes nos textos, relacionadas com o mar. Aqui fica a partilha...

  1. LUGRE - navio mercante, de três mastros latinos.
  2. DÓRI - pequena embarcação, de fundo chato, usada na pesca do bacalhau.
  3. BOTE - pequena embarcação a remos ou à vela.
  4. BALEEIRA - tipo de embarcação usada para a pesca em mar aberto, próximo da costa que tem uma proteção que permite o repouso do pescador a noite.
  5. BICHEIRO - aparelho de pesca.
  6. BOSSA - pedaço de corda com um nó para segurar um cabo ou uma verga na mesma posição.
  7. BRISA - mar bravo.
  8. VERDE - pescador que vai ao mar pela primeira vez.
  9. SEREIA - aparelho que em veículos e navios produz sons estridentes, para avisar da sua aproximação.

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Experiências

Chamámos-lhes "Homem ao Mar, Experiências" às pequenas apresentações que fizemos de algumas cenas da peça, ainda sem nome definido. Deixamos aqui algumas imagens que registaram este contacto (precioso) como público.
HOMEM AO MAR, Experiência 01 (ESPAÇO EVOÉ)



































HOMEM AO MAR, Experiência O2 (1º ANIV. ASSOC. BACALHOEIRO)

HOMEM AO MAR, Experiência 03 (ESPAÇO EVOÉ)









































Processo

O processo é o percurso que se faz até ao produto final. É, para muitos, a fase mais interessante de um projecto. Assim, seguimos com um resumo resumido desta etapa - a construção do espectáculo baseado no Lugre de Bernardo Santareno:

  • O texto, a partir do qual se iria trabalhar, foi escolhido pelo Professor da cadeira de Interpretação. A curiosidade era muita, estava tudo em pulgas para o saber! O Lugre de Bernardo Santareno foi o feliz contemplado. Um texto que nos remete para uma das actividades mais antigas - a pesca. E neste caso a do bacalhau.
  • Segue-se a pesquisa (de actores e encenadores) sobre tudo aquilo que achamos vir a ser útil para a boa compreensão do texto: a leitura do texto, a pesquisa de imagens, a "tradução" de vocábulos, a procura de canções e textos sobre o mar…
  • Um novo texto surge! Ao Lugre junta-se o Nos Mares do Fim do Mundo, também de Bernardo Santareno, o que fecha os textos sobre os quais se iria trabalhar.
  • As aulas decorrem, claro está. Estas são vistas como tubos de ensaio onde se dão experiências: puxar cordas, puxar redes, experienciar o desequilíbrio de um barco, “gritar” dizeres de pescadores, trabalhar com energia masculina, interiorizar a vida no mar…
  • Chega a altura de improvisar sobre a temática das cenas e sobre os textos (não dramatúrgicos) de Nos Mares do Fim do Mundo. Um trabalho em que o actor propõe e o encenador aceita ou não. É um trabalho colectivo entre as duas partes em que se compõem as cenas, aproximando-nos do resultado final.
  • Dá-se a atribuição de personagens e a consequente tarefa de decorar o texto.
    Começam, então, os ensaios das cenas já com os textos decorados. O trabalho colectivo continua: os actores sobem ao palco, propondo uma resolução de cena, os encenadores fazem o seu juízo do que funciona e do que não funciona. O ensaio é retomado até se dar a cena por “fechada”. Há que decorar as marcações e todas as outras indicações dadas pelos encenadores. Depois é ensaiar, ensaiar, ensaiar!
  • Agora é hora de ver figurinos, adereços de cena e cenários. E claro, continuar a ensaiar até ao dia da estreia!